quarta-feira, 31 de março de 2010

Os Galardões Celestiais

Os Galardões Celestiais

Acredito que seja útil olhar para o que a Bíblia tem a dizer sobre a obtenção de galardões. Nosso maravilhoso e gracioso Pai não somente nos salva e nos dá a vida eterna, mas também reserva para nós galardões celestiais com base no nosso serviço fiel. Encontramos esse princípio ensinado pelo apóstolo Paulo nas seguintes passagens:
"Segundo a graça de Deus que me foi dada, pus eu, como sábio arquiteto, o fundamento, e outro edifica sobre ele; mas veja cada um como edifica sobre ele. Porque ninguém pode pôr outro fundamento além do que já está posto, o qual é Jesus Cristo. E, se alguém sobre este fundamento formar um edifício de ouro, prata, pedras preciosas, madeira, feno, palha, a obra de cada um se manifestará; na verdade o dia a declarará, porque pelo fogo será descoberta; e o fogo provará qual seja a obra de cada um. Se a obra que alguém edificou nessa parte permanecer, esse receberá galardão. Se a obra de alguém se queimar, sofrerá detrimento; mas o tal será salvo, todavia como pelo fogo." [1 Coríntios 3:10-15].
"Porque todos devemos comparecer ante o tribunal de Cristo, para que cada um receba segundo o que tiver feito por meio do corpo, ou bem, ou mal." [2 Coríntios 5:10].
Esse princípio de recompensas, declarado de forma clara e inequívoca, diz que Jesus Cristo irá julgar os seus. Se Ele determinar que nossas "obras" individuais — aquilo que fizemos por Ele — são ouro, prata e pedras preciosas em caráter receberão galardões eternos com base no nosso mérito relativo. Entretanto, se nossas obras forem consideradas madeira, feno e palha, e forem consumidas pelo fogo do Seu teste, sofreremos perda.
A possibilidade de perda permanece um perigo claro e presente no que se refere aos crentes. Permitir que um pecado "pequeno" continue sem ser confessado após o Espírito Santo ter nos despertado para o arrependimento — é testar a paciência de Deus. Somente Ele sabe onde a linha proverbial na areia está traçada e, se a cruzarmos — o galardão potencial ficará em risco. Então, se persistirmos e nosso coração se tornar tão endurecido à sua punição que nos recusamos a dar ouvidos, a morte prematura pode ser o remédio final! Aqui está o que o apóstolo João disse sobre esse aspecto em particular da correição:
"Se alguém vir pecar seu irmão, pecado que não é para morte, orará, e Deus dará a vida àqueles que não pecarem para morte. Há pecado para morte, e por esse não digo que ore. Toda a iniqüidade é pecado, e há pecado que não é para morte." [1 João 5:16-17; ênfase acrescentada].
Assim, qualquer filho da graça que obstinadamente insistir em continuar com comportamento pecaminoso corre o risco de ter sua vida ceifada. A salvação do indivíduo não será perdida, mas parece razoável concluir que tal ação drástica resultará na perda de quaisquer galardões que poderiam ter sido concedidos — embora, dentro do meu conhecimento, as Escrituras não tratem desse aspecto particular do assunto.
Portanto, é óbvio que precisamos manter um temor saudável do nosso Pai Celestial e nos aproximarmos dele com muito maior respeito e reverência do que prestamos aos nossos pais terrenos. Os castigos que eles nos infligiam podem ter sido severos às vezes [Hebreus 12:9-10], mas retirar a vida física (não a vida eterna que temos em Cristo) é um passo que Deus pode dar se obstinadamente recusarmos o arrependimento. Portanto, mantenha esse princípio em mente enquanto prosseguimos.
Como mencionamos no artigo anterior, existem várias passagens das Escrituras no Novo Testamento que continuam a ser interpretadas como se ensinassem o crente pode perder a salvação. Mas apresento para sua consideração que a aplicação objetivada é para aqueles que podem estar em risco de perderem seus galardões, não a salvação. Uma dessas passagens encontra-se em 2 Pedro:
"Vós, portanto, amados, sabendo isto de antemão, guardai-vos de que, pelo engano dos homens abomináveis, sejais juntamente arrebatados, e descaiais da vossa firmeza." [2 Pedro 3:17].
Nos versos 3 e 4 desse capítulo, Pedro nos adverte sobre os escarnecedores e aqueles que causam intranqüilidade. Em seguida, no verso 16, menciona as coisas que o apóstolo Paulo tinha escrito e que eram difíceis de compreender — que os instáveis e indoutos estavam distorcendo para sua própria destruição. Finalmente, no verso 17, a advertência é feita para prevenir os cristãos de ouvirem a essas pessoas e terminarem caindo de sua firmeza de posição. Dar ouvidos a "espíritos enganadores" e seguir o erro deles pode levar os cristãos a se afastarem da fé, como vemos na seguinte passagem em 1 Timóteo:
"Mas o Espírito expressamente diz que nos últimos tempos apostatarão alguns da fé, dando ouvidos a espíritos enganadores, e a doutrinas de demônios; pela hipocrisia de homens que falam mentiras, tendo cauterizada a sua própria consciência." [1 Timóteo 4:1-2].
Acredito de todo meu coração que estamos vivendo nesses últimos tempos citados no verso 1, e muitos dos filhos amados de Deus estão se desviando de sua posição de firmeza na fé ao seguirem apóstatas possessos por demônios que se apresentam como pregadores. Será se isso significa que eles irão para o inferno ao morrerem? Não!!! Mas isso significa que o Diabo está obtendo uma vitória sobre eles, pois Deus, o Pai, está sendo ferido por esse fracasso de seus filhos. Pessoal, o Diabo é um inimigo derrotado, mas ainda tem a permissão de contristar Deus fazendo desviar alguns dos eleitos por quem Cristo morreu. O Pai Celestial já proveu para eles toda a armadura espiritual necessária [Efésios 6:11-18] — mas alguns deixam de usá-la adequadamente e sofrerão a perda dos galardões diante do Tribunal de Cristo [2 Coríntios 5:10, citado anteriormente].
Outro verso mal compreendido encontra-se também em 2 Pedro:
"Portanto, irmãos, procurai fazer cada vez mais firme a vossa vocação e eleição; porque, fazendo isto, nunca jamais tropeçareis." [2 Pedro 1:10].
Espera-se que todos os fiéis cristãos "cresçam na graça e no conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo" [2 Pedro 3:18], para que fortaleçamos e solidifiquemos nossa posição Nele — nosso chamado, nossa eleição — de tal forma que os espíritos enganadores não possam nos enganar com falsas doutrinas. Os cristãos maduros que aprenderam e sabem manejar bem a palavra da verdade [2 Timóteo 2:15] podem identificar uma falsificação — pois elas invariavelmente se desviam da verdade das Escrituras fazendo acréscimos ou remoções delas. A Palavra de Deus é nosso recurso principal no discernimento espiritual — sendo apoiada pelo reforço da presença do Espírito Santo em nós. Uma das realidades que mais fazem partir o coração hoje é que alguns cristãos estão dando ouvidos ao "espírito" (observe que usei a inicial minúscula), em vez de colocar a prioridade apropriada sobre aquilo que Deus já disse.
"Mas aquele que perseverar até ao fim será salvo." [Mateus 24:13].
"- Ah! Veja, eu disse a você que temos de 'perseverar até o fim' para sermos salvos." Errado de novo! O capítulo 24 de Mateus — do verso 4 em diante — é profético e trata dos judeus durante o Período da Tribulação. Quando o Senhor falou essas palavras aos seus discípulos judeus, a igreja ainda era um mistério divino e não se tornaria realidade até o Pentecostes — cinqüenta dias após a Páscoa judaica — o dia em que o Senhor foi crucificado e enterrado. Todo o ministério terreal do Senhor envolveu a mensagem, "Arrependei-vos, pois o reino dos céus está perto". Qual é o ponto? Simplesmente que Ele estava pessoalmente na Terra e oferecendo o reino a Israel. Então, no verso 14 (logo após a afirmação de "perseverar até o fim", acima), o texto diz claramente:
"E este evangelho do reino será pregado em todo o mundo, em testemunho a todas as nações, e então virá o fim." [Mateus 24:14].
Que "este evangelho" refere-se ao "evangelho do reino" e não ao "evangelho da graça" que está sendo pregado atualmente a todo o mundo — é prova positiva que a passagem refere-se ao Período da Tribulação quando o evangelho do Reino será proclamado porque mais uma vez o reino terreal do Senhor estará verdadeiramente "perto" — sua presença pessoal será iminente. Os 144.000 servos de Deus escolhidos de Israel [Apocalipse 7:1-8] pregarão as boas novas do reino a todas as nações na Terra, e "uma grande multidão, a qual ninguém pode contar, de todas as nações, e tribos, e povos, e línguas..." [verso 9], será salva durante a Grande Tribulação [verso 14 — a última metade do Período da Tribulação].
Portanto, a afirmação sobre a salvação daqueles que perseverarem até o fim está se referindo ao remanescente dos eleitos (tanto judeus quanto gentios) que chegarem vivos ao fim do Período da Tribulação!
Finalmente, a passagem mais difícil, que tem preocupado tantos há vários séculos:
"Porque é impossível que os que já uma vez foram iluminados, e provaram o dom celestial, e se tornaram participantes do Espírito Santo, e provaram a boa palavra de Deus, e as virtudes do século futuro, e recaíram, sejam outra vez renovados para arrependimento; pois assim, quanto a eles, de novo crucificam o Filho de Deus, e o expõem ao vitupério." [Hebreus 6:4-6].
Ao longo do tempo, várias visões têm sido propostas sobre a quem essa passagem referencia, mas uma coisa é afirmada muito claramente — aqueles que recaíram não podem ser renovados para o arrependimento. Sendo esse o caso, o que o arrependimento significa? Basicamente, a palavra grega metanoia significa "ter outra mente" — parar de ir à direção errada e começar a ir à direção certa, espiritualmente falando. Assim, a coisa que precisamos compreender é que enquanto o verdadeiro arrependimento acompanha a salvação, ele mesmo não é a salvação.
Em seguida, devemos observar que o termo "recair" no verso 6 é a tradução do palavra grega parapipto — a respeito da qual W. E. Wine diz em seu Expository Dictionary of New Testament Words: "... significa uma recaída (da adesão às realidades e fatos da fé)..." Portanto, se essa passagem está na verdade falando de um crente genuíno que recaiu da aderência às realidades e fatos da fé, será devido ao engano por um falso espírito — a operação de demônios e/ou indivíduos que são apóstatas e disfarçados de crentes para o propósito do engano. A parte mais triste é, se o desvio progride além do ponto em que Deus ainda concede o arrependimento, ele torna-se irreversível — a ovelha acabará sendo devorada pelo lobo, por assim dizer, e perderá totalmente sua eficácia para Cristo. A perda de galardão por cair presa em tal enganação após ser repetidamente advertido pela Palavra de Deus para se acautelar dos lobos vestidos em pele de cordeiro deve ser um conceito compreensível para todos nós. Mas uma vez que a salvação é verdadeiramente uma realidade na nossa vida, perdê-la por ter cometido algum pecado seria totalmente contrário a muitos e muitos versos das Escrituras — a preponderância dos quais, na verdade — diz exatamente o contrário. Todos os nossos pecados, 100% deles — passados, presentes e futuros — foram perdoados em Cristo Jesus.

A PERDA DOS GALARDÕES É UM PERIGO SEMPRE PRESENTE PARA TODO CRENTE GENUÍNO — MAS LOUVADO SEJA O SENHOR, A SALVAÇÃO NÃO É CONDICIONAL!!!

segunda-feira, 29 de março de 2010

GALARDÃO DA GRAÇA

O Galardão da Graça

Prof. Herman Hanko
Tradução: Felipe Sabino de Araújo Neto

E, eis que cedo venho, e o meu galardão está comigo, para dar a cada um
segundo a sua obra (Ap. 22:12).

Pergunta: “Uma pessoa salva, digamos, há apenas um ano pode ter
avançado na vida cristã bem mais do que alguém salvo há sessenta anos. O
galardão no céu depende do estágio alcançado e do total de serviço acumulado
ao longo dos anos?
Eu dei a este artigo o título “O Galardão da Graça” porque a pergunta
tem a ver com a explicação que os teólogos Reformados e Presbiterianos têm
consistentemente dado ao galardão que os crentes recebem por suas obras.
Ele é chamado de o galardão da graça porque, embora, de fato, um crente seja
recompensado por suas obras, essa recompensa é pela graça somente.
A situação descrita na pergunta – um homem convertido há apenas um
ano estando bem mais avançado na vida cristã do que outro convertido há
sessenta – é uma exceção, e não uma regra. Podem existir pessoas assim, mas
a forma comum na qual Deus opera Sua salvação no coração do Seu povo é
mediante progresso e crescimento na santificação. Contudo, seja qual for o
caso, a resposta à pergunta não é afetada.
Que seja estabelecido que as nossas obras são de fato recompensadas.
A Escritura ensina isso em mais de um lugar (e.g., Mt. 5:12; 6:4, 6, 18; 10:41;
16:27; Lucas 6:23, 35; 1Co. 3:8; 2Co. 5:10; Hb. 11:6). Um incentivo a praticar
boas obras enquanto estamos aqui na Terra é o galardão que receberemos na
glória.
É também o ensino da Palavra de Deus que o galardão será em
proporção às obras. Esse é claramente o significado das palavras do Senhor
em Apocalipse 22:12, de que todos serão recompensados “segundo a sua
obra”. O Senhor dispensará as recompensas de uma forma totalmente justa.
(Isso implica também o castigo dos ímpios no inferno de acordo com suas
obras.) Podemos deduzir disso que não há desapontamento no céu, e que
cada um de nós ficará satisfeito com a recompensa que receber.
Além disso, as boas obras recompensadas no céu não são
necessariamente as obras extraordinárias que alguns realizam. Em sua obra de
reforma, Lutero virou a Europa de cabeça para baixo. Essa foi de fato uma
grande obra. Mas existem obras agradáveis a Deus que passam despercebidas
pelos homens, obras de grande valor e dignidade. O coração partido de um
pecador penitente, chorando em seu quarto, é de maior dignidade que muitos
feitos poderosos. O cuidado fiel de uma mãe piedosa pela sua família é de
valor bem maior que um sermão poderoso de um ministro enamorado com
suas próprias habilidades. Deus pesa as obras em escalas diferentes das que
usamos.
Mas o que eu disse até agora não é de forma alguma a história toda.
Penso que o resto da história pode ser melhor contada citando-se a Confissão
Belga 24: “Então, fazemos boas obras, mas não para merecermos algo. Pois,
que mérito poderíamos ter? Antes, somos devedores a Deus pelas boas obras
que fazemos e não Ele a nós. Pois, ‘Deus é quem efetua em’ nós ‘tanto o
querer como o realizar, segundo sua boa vontade’ (Filipenses 2:13). Então,
levemos a sério o que está escrito: ‘Assim também vós, depois de haverdes
feito quanto vos foi ordenado, dizei: Somos servos inúteis, porque fizemos
apenas o que devíamos fazer’ (Lucas 17:10). Contudo, não queremos negar
que Deus recompensa as boas obras; mas, por sua graça, Ele coroa seus
próprios dons”. Através da graça de Deus, Ele coroa Seus dons! Esse é o
galardão da graça! Várias idéias são ensinadas aqui.
(1) As boas obras que realizamos e que Deus recompensa são
graciosamente nos dadas como um dom. Deus opera em nós tanto o querer
como o realizar a Sua boa vontade (Fp. 2:13). Somos devedores a Deus por
nossas boas obras, não Ele a nós.
(2) Nunca, sob quaisquer circunstâncias, merecemos algo de Deus.
Nem mesmo Adão, antes de cair, poderia ter merecido algo da parte de Deus.
Toda a idéia de mérito humano é contrária às Escrituras.
(3) O galardão que recebemos também nos é dado pela graça. Esse é o
motivo de ser chamado “o galardão da graça”. É, nas palavras da nossa
confissão, “por Sua graça que Ele coroa Seus próprios dons”.
(4) Cada um recebe um galardão inteiramente justo, ajustado e
apropriado para ele ou ela.
Para explicar isso adicionalmente, o professor de catecismo da minha
juventude dizia que Deus cria vários copos de vidro de muitos tamanhos
diferentes. Eles são criação Sua; o tamanho não é arbitrariamente
determinado. Na glória, Ele enche cada copo de vidro até o topo. Cada copo
fica cheio e não pode receber mais, mas cada um deles é de um tamanho
diferente.
A metáfora é como segue. Em Sua obra de salvação, Deus muda e
forma cada um do Seu povo, de acordo com a Sua vontade. Ele faz isso pela
obra de salvação, pela qual cada um de nós realiza boas obras, obras que
revelam a glória de Deus na salvação. No céu, todo santo será recompensado
por causa das suas obras por Deus, de forma que a obra iniciada nesta vida
será finalizada no céu, onde a glória de Deus brilha em cada santo para o
louvor do nome de Deus.
No plano perfeito de Deus, a obra da salvação nesta vida é
perfeitamente realizada para preparar cada santo para o seu lugar na glória.
Cada pedra – a fim de usar outra metáfora – é moldada e formada por Deus
através de todas as experiências de vida, a fim de se encaixar perfeitamente no
templo de Deus construído em toda a sua glória no céu (Ef. 2:20-23). Assim,
cada um em seu lugar, de acordo com o galardão da graça, exibe em sua
própria forma e em conexão com todos os eleitos a glória do Deus que salva a
igreja inteira e edifica o Seu próprio templo. Tudo é sempre para a glória de
Deus e louvor de Sua graça!
Fonte (original): Covenant Reformed News, Fevereiro de 2007,
Volume XI, Edição 10.